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En el corazón del País, Paso de Los Toros y Rio Negro

Após passarmos três dias na pequena e charmosa cidade de Tacuarembó, capital do departamento de mesmo nome, seguimos caminho ao sul pela ‘Ruta 5’ para a região central do país, en el corazón de la Republica Oriental del Uruguay.



Diferente do Brasil onde comumente enfrentamos viagens de longos percursos e duração, às vezes 5h, 8h, 10h ou até 20h dentro do ônibus, no Uruguay - vide as dimensões territoriais do país (área relativa ao Estado do Paraná), essas viagens são sempre reduzidas, se comparadas à nossa realidade. Assim, rumando nosso caminho de Tacuarembó para Paso de Los Toros, esse percurso de 115 km não foi diferente, pois com 2h de ‘estrada’ já estávamos em nosso destino.


A viagem foi tranqüila, num ônibus confortável e parador, que iniciou a viagem semi-vazio e ao longo do caminho já estava com todos os assentos ocupados. A paisagem que acompanhávamos ainda era praticamente a mesma de Tacuarembó, uma continuidade dos Pampas e Campañas uruguayas. Relevos planos, pastagens naturais, muita ganadería e, vez ou outra, pequenas colinas (ou ‘coxillas’ como chamam aqui) no formato de chapadas, quebravam a monotonia das planícies e seus extensos horizontes.



Várias estâncias e uma ou outra escola rural, por vezes apareciam pontuais na paisagem, nos deixando avisados que por ali hão pessoas, famílias e atividades, embora a paisagem que seguia fosse ainda muito pouco povoada e las tierras poco siembradas y cultivadas, o que de modo geral, representa o vazio demográfico do Uruguay e sobretudo das áreas rurais.


Saímos de Tacuarembó sob forte chuva, e chegamos em Paso de Los Toros todavia com o céu nublado e carregado tal, que ameaçava aquela chuva.


Descemos do ônibus no trevo da cidade, pois ali não há um terminal ou rodoviária, no entanto, saltamos de frente para o principal monumento e símbolo da cidade, um forte e vistoso Touro, que faz as honras dessa municipalidade dando as boas vindas e adeus àqueles que chegam e partem desde aqui.


E logo ali, por detrás do Touro, já avistamos o Rio Negro, principal curso d’água interno do país, e que praticamente divide o Uruguay em duas partes iguais, uma ao norte e outra ao sul, deste rio que tem sua nascente em terras brasileiras, cerca de Bagé-RS e sua foz no rio Uruguai. Com isso, ainda com as mochilas nas costas, resolvemos primeiro - antes de sair em busca de hospedagem, caminhar até este bonito rio, para podermos apreciar e sentados à sua beira, refletir sobre o que faríamos em seguida.


Por ali mesmo, nas margens do rio, há uma grande área com gramado e diversas parilleras, e para nossa grata surpresa, havia também duas barracas armadas, donde como já estávamos pensando nisto, fomos perguntar como fazer para também armar o nosso acampamento.


Ali nas barracas estavam dois irmãos, aparentemente com seus 30-35 anos , bem grandes, fortões e carecas, e muito parecidos entre si e com perfil de lutadores de MMA. A situação era engraçada e enquanto conversávamos, a Fernanda dialogava e eu intrigado observava-os atentamente averiguando se não eram gêmeos. A parte as brincadeiras, descobrimos com os hermanos (que afinal não eram gêmeos, apenas irmãos muito parecidos) que ali mesmo já era área do Camping El Sauce, um camping municipal administrado pela própria prefeitura ou Intendencia de Paso de Los Toros.


E por aqui mesmo ficamos em virtude de sua boa localização, estrutura e, sobretudo, o preço, que era de 110 pesos uruguaios por ‘carpa’, o que representa, em bom português, uma diária econômica de R$ 13,75 por barraca.


O camping conta com bons banheiros e duchas, uma área para lavar louças e também roupas, diversas parilleras, um ‘comedor’ ou ‘bar e restaurante’ que não explorava nos preços e serviam boas comidas. E o melhor disso tudo, na beira do velho e, ainda que cheio de histórias, silencioso Rio Negro, onde dormíamos e acordávamos bem próximos, sob lindas noites de céu estrelado, embora frias, devido os ventos que sopravam das margens para o continente. Ali nos hospedamos durante os seis dias que estivemos em Paso de Los Toros.





E mesmo no camping, pois chegamos em um final de semana, já investigamos saber a origem do nome da cidade, vinculado à história ganadera do país e a peculiar geografia do Rio Negro, que então estávamos tão pertos e, como já sabido, ‘divide’ o território do país em norte e sul. Isto posto a cidade nasceu, cresceu e se desenvolveu na beira deste Rio. Não como uma cidade portuária, tampouco por possuir uma vocação agrícola ou pesqueira, como ocorrido em outras histórias de cidades e rios, mas já que no longo percurso natural do Rio Negro, propriamente nessa localidade havia um trecho, cuja parte do leito era mais estreita, com terra firme e profundidade mais rasa devido processos naturais de erosão e assoreamento.


Contudo, antes da construção de pontes e rodovias, e do transporte de gados através de caminhões, sobre o Rio Negro, era por aqui que se podia atravessá-lo em épocas de normalidade no volume de suas águas e, por aqui concomitantemente interligava-se a comunicação e fluxo do território entre as margens e pueblos del norte e margens e ciudades al sur del rio e país. Aqui formava uma espécie de ‘vado’ ou banco de areia que por muitos anos serviu de passagem a bois, vacas, touros, cavalos e ovelhas... gados criados nos pampas, no norte do país e que eram levados até Montevideo, em longas travessias do território, tanto para contemplar o consumo interno no país, quanto também destinados à exportação, e nesse caso seguiam rota direto ao Porto de Montevideo o Colonia del Sacramento.


Daí, como tantas outras e importantes cidades que tiveram seu surgimento atrelado a determinado rio, nascente ou foz, aqui a história diferencia-se, pois se acrescenta todavia o fator cultural da ganadería, atividade econômica secular e tradicional na região e país, donde de um local de passagem de gado num determinado momento da história, surge el nombre y la ciudad de Paso de Los Toros.


Ao longo dos dias, para além das vivências e estudos no próprio camping que era um tranquilo reduto de reflexões, tinha a realidade dessa região ainda por desvendar e conhecer.


E assim, como chegamos na cidade em um final de semana, aproveitamos que o Ministerio de Ganaderia, Agricultura y Pesca estava fechado, para rodar pela cidade, observar suas ruas, monumentos e conhecer um pouco mais de sua história.


Neste tema, a cidade também merece elogios para além do camping e do rio, pois com uma atmosfera de pequena cidade, Paso de los Toros traz em suas arborizadas e tranquilas calles, silenciosas poesias de passado e presente que se misturam e convivem.


Ruas pouco movimentadas, estação de trem abandonada nas proximidades do centro, comércios fechados com marcas de um passado próspero, comércios cerrados no horário de la siesta, carros antigos e novos, carroças, motos, lambretas, scooters, clássicas bicicletas de variados modelos das décadas de 30 a 90.















En Lunes ou segunda feira, já com a rotina da cidade ‘em funcionamento’, despertamos cedo do camping para tentar um contato no Ministerio de Ganaderia, Agricultura y Pesca que está localizado no centro da cidade, nas proximidades da praça Gral. José Artigas, como havíamos mirados no dia anterior. Lá chegando fomos inicialmente recebidos pela médica veterinária Aldana Balserini da Secretaria de Controle Sanitário de Bovinos/Ovinos dessa municipalidade e demais pueblos rurais da região sul da província de Tacuarembó.


Nos apresentamos e também expomos brevemente nosso projeto e nossos objetivos por aqui, que foram recebidos com bons olhos pela Aldana e pela Rosana, também veterinária e chefe dessa secretaria. Passamos a manhã e parte da tarde por ali, numa produtiva charla que nos fornecia um embasamento teórico e estatístico da realidade agrícola e sobretudo, ganadera dessa região e país, a partir dos conhecimentos que Aldana e Rosana compartiam com Nosotros, bem como os dados, informações e realidades que nos mostravam no computador, no mapa e em algumas publicações do ministério.


No meio dessa conversa, Aldana comentou que no dia seguinte aconteceria uma tradicional Feria de Ganado que ocorre mensalmente em vários pueblitos rurais do país, e que dessa vez seria em Peralta, distante 40km ao norte de Paso de Los Toros, mas que ela iria à trabalho e passaria todo o dia envolvida nas atividades que ali cumprem os veterinários do Ministério e, contanto não seria possível um encontro no dia seguinte. No entanto, instigados a ir e curiosos sobre como seria essa feira, arriscamos (no instinto) perguntar se não era possível acompanharmos o seu trabalho, apenas como observadores, pois muito nos interessava presenciar e vivenciar de perto essa realidade dos campos e campesinos gauchos do Uruguay e região por onde nosotros optamos começar nossos estudos e roteiro de viagem.


Assim sendo, valeu demais arriscar nesse tema e Aldana creio que pensativa, porém feliz com o interesse de nossa parte, averiguou se era possível irmos com ela no veículo do Ministerio ou se outras pessoas já iriam no mesmo, mas com tudo conspirando a nosso favor deu certo, e conseguimos deixar marcado com ela nossa carona para Peralta. No dia seguinte às 8h no monumento ‘El Toro’, que está na saída da cidade e, todavia ‘cerquita’ de nosso camping e carpa, logo certo que estaríamos allá esperando. Por esse dia, nos despedimos ‘hasta mañana’ então da Aldana que, como quase toda mujer latinoamericana seguiria sua jornada de trabalho ahora ‘informal’ en su casa como mamá de três hijos chicos.


Ainda no Ministerio, fizemos amizade também com o Sr. Eduardo, um uruguaio muito simpático, alegre que le gusta los brasileños y le encanta agradar las personas y amigos. Hablamos esto pois nos presenteou com um sabroso almuerzo en su compania no próprio ministério, e nos regaló también con um vaso do Club Nacional de Football, grande equipo del futbol Uruguayo e uma simbólica y rica água tônica ‘Paso de Los Toros’ da própria ciudad de Paso de Los Toros.

"Yo creo que fuimos nacidos hijos de los días, porque cada día tiene una historia 

nosotros somos las historias que vivimos...

Eduardo Galeano

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