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En los Pampas Uruguayos - Tacuarembó

Pouco citada nos livros ou guias de viagem, e há aproximados 110 km ao sul de Rivera pela Ruta 5, encontra-se a pequena e charmosa cidade de Tacuarembó, que também é capital do departamento uruguaio de mesmo nome.


Nome este que tem sua origem etimológica de uma planta muito encontrada e utilizada também no Brasil, a Taquara, uma espécie de broto, bambu, que se encontra em abundância nessa região norte do Uruguay, nos pampas gauchos.


Saímos de Rivera 16h da tarde e com um belo fim de tarde de presente, a paisagem que nos acompanhou na viagem, ainda que uma extensão dos pampas gaúchos, para Nosotros que não somos nativos do Rio Grande do Sul, já se fez notável e diferente das paisagens que estamos acostumados a ver na região sudeste de mata atlântica, restinga, manguezais, cerrado e, mares de morro.


Por aqui, o relevo que compõe a paisagem dos pampas é bastante plano, quase totalmente formado de planícies, salvo exceções, visto que ora ou outra surgem na paisagem, pontuais morros no formato de chapadas ou mesetas que dão testemunhos do longo período de erosão, principalmente eólica. Pastagens naturais e pequenos rios ou arroyos (como se habla acá) e muita pecuária ou ganadería por todo imenso horizonte. Grandes campos e poucos campesinos, uma vez que por natureza essa atividade demanda e ocupa pouca mão de obra, vez ou outra também, avista-se na paisagem um cavaleiro ou vaqueiro tocando a boiada. Bois, vacas, novilhos e ovelhas sim, preenchem as planícies das campañas uruguaias, juntamente com muitas plantações de eucaliptos e pinheiros, utilizados comercialmente para a fabricação de celulose e madeira/lenha respectivamente, e nos seguem por vários quilômetros no percurso pela Ruta 5.


É possível avistar também, desde Rivera até Tacuarembó, várias estâncias ou fazendas distantes umas das outras, assim como centenas de caixas de abelhas que produzem mel a partir das floradas dos eucaliptais. Sobre estas, soubemos, ainda em Livramento-RS, que o mel produzido nessa região pode ser considerado um mel binacional, posto que em muitos casos, as caixas de abelhas são levadas ao território uruguaio por apicultores brasileiros da região de fronteira entre os países. Detalhe, as abelhas não passam pela aduana e fiscalização de fronteira, nem pagam impostos para ambos os países...


Após 1:30h de viagem de ônibus, chegamos na cidade de Tacuarembó, já no final da tarde do dia 18 de março, pelo Terminal Carlos Gardel. Curiosos com o nome do terminal desde Rivera, quando vimos que ali chegaríamos... logo na chegada, ainda no terminal perguntamos o por quê do nome ou homenagem ao cantor e dançarino de Tango? E ao contrário do que muitos imaginam, e nós também pensávamos, Carlos Gardel é natural de Tacuarembó, esta pequena cidade no norte do Uruguay, e não argentino, para onde foi ainda criança e, mais tarde marcou época com sucesso e fama ao reinventar o tango para todo o mundo.


Dúvidas esclarecidas, mapa da cidade em mãos, e mochilas nas costas, saímos do terminal pelas tranqüilas e pouco povoadas ruas de Tacuarembó em busca de hospedagem. A cidade, mesmo capital do departamento, apresenta características de cidade pequena e do interior, e como já dito não tem forte vocação turística... o velho e o novo, o antigo e o moderno se misturam demais nas ruas e construções... casas de arquiteturas antigas e modernas são vecinas... carros do ano e de diferentes décadas, de 30, 40, 50, 60 dividem as mesmas ruas no tráfego urbano...


E após caminhar um bocado nas redondezas do terminal, logo percebemos que não havia muitos hotéis por ali, pois quase todos que perguntávamos na rua não sabiam nos dizer... tampouco tínhamos informações em nosso guia de viagem, que até olhamos mais uma vez. Contudo caminhamos uns 2 km nas redondezas do terminal, e nada. Avistamos mais adiante um hotel que, de fora já percebemos que não daria para Nosotros, mas mesmo assim entramos para arriscar e sondar o preço. Mas logo saímos - ‘tiro nágua’ - conformados pelo preço que não era pra gente mesmo. Paramos então numa esquina, e do outro lado da rua semi-deserta, vinha vindo um rapaz de boné carregando sacolas de supermercado.. atravessei a rua pra perguntá-lo sobre hospedagem... e para nossa primeira grata surpresa, ele era brasileiro, de Camboriú-SC... e a segunda surpresa, por sinal mais grata ainda, ele estava acampado num parque municipal (Laguna de las Lavanderas) com sua família (Molina), e de graça, custo zero.


Distante mais ou menos 1km de onde estávamos, e afirmado por ele que era um local tranqüilo, lá fomos Nosotros com ele, caminhando, conversando e nos conhecendo. Já no Parque Laguna de las Lavanderas, conhecemos o restante da família Molina, e por aqui mesmo Nosotros ficamos hospedados/acampados por três dias... Ainda que sempre ligados, atentos e vigilantes nas noites, pois estávamos num parque público, passamos bem em Tacuarembó, e além da vivência e aprendizados importantes nesse começo de viagem com a família Molina – já descrita no blog da Fernanda – rodamos a pé pelas pacatas e floridas ruas e praças da cidade. Passamos por alguns pontos turísticos como museus e pontes. Conversamos com vendedores e comerciantes de frutas e verduras. Entramos em mini e super-mercados.


E após os dias que corriam rápidos e eram também quentes e úmidos na cidade de Tacuarembó. Frias noites e, amanheceres cheios de orvalho. A bela Laguna de las Lavanderas, as muitas árvores de plátano e parrilleras (churrasqueiras) dispersas pelo gramado, compunham o visual que tínhamos de nossa barraca no despertar desses dias.


Após o despertar, seguido do café da manhã que ali mesmo improvisávamos, com lenha e fogo nas parrileras... tínhamos que desarmar acampamento, pois o parque era municipal e bastante movimentado para práticas de esportes e lazer, logo não podíamos deixar as bolsas na barraca armada, e sairmos os dois juntos, por um dia inteiro... assim temprano, saíamos com as mochilas nas costas, numa caminhada até a rodoviária para deixá-las no guarda-volume e tomar banho, pois detalhe, o parque era muito bom pra acampar mas não por muitos dias, pois não tinha banheiro com chuveiro, somente vasos sanitários... e foi numa dessas idas e vindas no terminal Carlos Gardel...


Por meio de contato com as meninas da cabine de informações turísticas - após falarmos sobre nosso projeto e buscar informações sobre a zona rural de Tacuarembó - conseguimos o telefone do Senhor Carlos Menendez, que era conhecido de uma delas, e também professor de uma escola agrária no município e engenheiro agrônomo na secretaria departamental y municipalidad de Tacuarembó. De imediato, elas já entraram em contato com ele por telefone e me colocaram na linha para falar com ele... ainda que com a dificuldade de expressar os pensamentos no idioma espanhol de forma rápida, como ao telefone, ele nos entendeu e nos convidou para uma conversa pessoalmente na secretaria dentro de 20/30min. Agradecemos demais as meninas do turismo, e para a secretaria seguimos em 20 minutos de caminhada.


Chegando, fomos muito bem recebidos por Carlos, que é um conhecedor da questão agrária da região Centro-Norte do Uruguay, sobretudo do departamento de Tacuarembó, na qual acompanha de perto projetos e intervenções políticas, há mais de vinte anos.

















Em quase 2h de conversa, Carlos nos passou dados, informações, respondeu nossas perguntas, dialogou com nós sobre alguns projetos que deram certos e outros errados na região. E, bem como imaginávamos, realmente aqui predomina, sobretudo a ganadería extensiva, e voltada quase totalmente para o corte, couro e lã, sendo esta a principal atividade econômica do país e, também dessa região.


O encontro por si foi proveitoso e bastante esclarecedor para Nosotros, no que diz respeito a conhecer teórica e empiricamente a realidade da região, para tentar compreender com os próprios olhos, reflexões e associações, aquilo que estamos presenciando e vivenciando nessa passagem pelos Pampas.


Mas ainda sobre o cenário agrário da região dos Pampas uruguaios - onde, por fatores históricos e culturais, e o potencial natural já destacado - 90% das pequenas propriedades têm na ganadería a atividade econômica de subsistência das famílias. Registra-se pois sobre essas planas e nativas pastagens, de tradicionais criações ganaderas, para além do que imaginávamos, o avanço também do agronegócio, vazio de cultura e tradições, das monoculturas de eucaliptos e pinos, outrora já comentados, bem como também monocultivos de soja, arroz, sorgo e milho, na qual muitas empresas agrícolas dessas plantações comerciais são de brasileiros, que sequer vivem na região, mas compram e administram grandes áreas de terras a preços e custos com mão de obra, mais baratos no país vizinho. Mais ou menos, como ocorre em terras paraguaias, onde esta prática adotada por ruralistas brasileiros, conhecidos como 'brasiguaios', é ainda mais explícita e problemática, já resultando vários conflitos sobretudo com as populações nativas e tradicionais desse país.


Primeiro conhecer, e em seguida estudar e buscar entender a região de Tacuarembó, para Nosotros foi um desafio. Tanto por ser o primeiro ponto de parada e investigação de fato, que tivemos que racicionar e nos comunicar, ouvindo e falando, somente em espanhol. Como também pelas peculiaridades dos Pampas, historicamente mais ocupado por gado, do que propriamente gente. Mas por fim, tudo correu bem demais e, conseguimos aqui muitas informações, dicas e conselhos para continuar nosso caminho e seguir pensando e matutando acerca desse pequeno - e já encantador - país que é o Uruguay.


e pelo visto ainda temos muito que aprender por aqui...


Obrigado Tacuarembó...


...e que se pasen bién los gauchos y campesinos en lucha contra las monoculturas...






"Yo creo que fuimos nacidos hijos de los días, porque cada día tiene una historia 

nosotros somos las historias que vivimos...

Eduardo Galeano

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