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EntreFronteras Latino Americanas I

Brasil-Uruguay (Santana do Livramento – Rivera)

Cá estamos Nosotros em Porto Alegre há 15 dias envolvidos e procurando ajudar o Thimoteo e a Luiza, nossos professores, em um processo de mudança e obras de uma nova casa.

Hoje, dia 16 de março de 2015, uma segunda feira, iniciaremos de fato o Projeto Expedição Nosotros Latinos, quando partiremos de ônibus de Porto Alegre para a cidade de Santana do Livramento, situada no extremo sul do Rio Grande do Sul, e que por coincidência é também a cidade natal do Thimoteo... que oportunamente nos passou algumas dicas e vários conselhos da região de fronteira.

Do Brasil para o Uruguay, poderíamos ter optado por cruzar outras fronteiras que não há de Livramento e Rivera, mas também a do Chuí-Chuy, Jaguarão-Rio Branco, Quaraí-Artigas ou Uruguaiana-Bella Unión. Optamos previamente a partir de estudos, por cruzar a fronteira de Livramento-Rivera, pois por aí atravessaremos o Uruguay pela região central, onde se situam os Pampas uruguayos, e onde estão sobretudo as estâncias, fazendas e principalmente a pecuária, que constitui a base da atividade econômica do país e um orgulho nacional de los uruguayos... a carne, matéria prima da legítima parrilla.

No entanto, este é um assunto para as próximas postagens já que o assunto aqui é tratar e comentar nossas experiências e impressões das cidades e zonas de fronteiras nacionais.

Pois bem, chegamos em Santana do Livramento-RS, na madrugada de terça feira, dia 17, após oito horas de viagem, na qual só me lembro de nós, ainda em Porto Alegre, atravessando o grande lago Guaíba sob um lindo céu estrelado, e mais nada... apagamos... e pronto, pessoas se levantando, pegando as malas, e ainda sonâmbulos, chegamos na rodoviária de Livramento. Ainda escuro e frio da madrugada, esperamos o sol raiar e dali partimos pela Avenida Sarandi, até a Plaza internacional, e em menos de 10 minutos de caminhada, literalmente já estávamos na fronteira. A grande Plaza é binacional, ou seja, metade território brasileiro e a outra uruguaio. E ao centro, na ponta da praça, dois mastros sustentam imponentes as bandeiras de ambos os países. Por ali, nos bancos e gramados acomodamos as mochilas pesadas, sentamos e descansamos um bocado... mas de qual lado da praça? Como dois bons ansiosos por chegar logo, simbolicamente a grama do lado uruguaio aparentou ser mais verde e macia... ali ficamos por alguns instantes, observando o amanhecer e o dia de fato começar na fronteira.

Carros, motos, ônibus e bicicletas começando a circular, pessoas e crianças atravessando a praça, em todos os sentidos, para irem trabalhar ou à escola, diversos traillers e vans de cachorro quente e lanches já rodeavam a praça e as lojas de comércio do entorno se acomodando por onde passariam o dia inteiro e grande parte da noite. Mas não ficamos ali para acompanhar, saímos em busca de hospedagem. São muitas as opções, mas econômica ou mesmo que se encaixava ao bolso (já viu né?!), para achar, tem que rodar, rodar e rodar... por fim, encontramos uma pousada até bem localizada e “não muito cara”- tiramos o café da manhã r$20,00 por pessoa, que estava embutido no preço. Após guardar as mochilas com as bagagens, saímos com nossas mochilas de ataque, com diários e máquinas, para percorrer as cidades de Santana e Rivera já com o dia e o comércio em pleno funcionamento. Também tínhamos que visitar as instituições que já havíamos planejado passar para conversas e busca de dados da região: o Instituto Federal Rio Grandense (IFRGS) e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).

No Instituto Federal nos apresentamos, mas não conseguimos muita coisa, pois o diretor e a equipe pedagógica se encontravam em reunião por todo o dia. Deixamos o nosso contato. Já na UERGS, esperamos 3h sentados para isso, mas tivemos um encontro, ainda que rápido bastante produtivo, com o Professor Dr. Anor Aluizio, coordenador do curso de agronomia daquela instituição, para o qual inicialmente nos apresentamos e falamos um pouco do nosso projeto e de nossas intenções naquela oportuna conversa. O professor curtiu o projeto, riu de nossa aventura e coragem, mas deu-nos um apoio moral com suas palavras. Não tinha muito tempo, pois era intervalo dos alunos e ele daria aula em seguida. Mesmo assim, gentilmente sentou-se onde estávamos e, em quase 40minutos de conversa com Nosotros, conseguiu traçar um esboço do cenário agrícola da região de fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguay, área que acompanha, estuda e juntamente com os alunos em suas disciplinas, vem refletindo sobre a temática agrária. Engenheiro agrônomo de formação, pesquisador e estudioso que, assim como nós segue e acredita na linha de raciocínio da agroecologia, a conversa e os ensinamentos que nos passou sobre a região foram bastante esclarecedores, sobretudo as ressalvas da histórica problemática fundiária da terra, dos assentamentos e da potencialidade leiteira e apicultora dessa região de fronteira entre Brasil e Uruguay.

Voltando às impressões das cidades de Livramento e Rivera, outro marco de fronteira nessa região é a Avenida Paul Harris que geograficamente divide as duas cidades/países, sendo de um lado da avenida comércio, sinalização, órgãos públicos e publicidade relativos ao Brasil e identificados no idioma Português, enquanto do lado Uruguaio dessa mesma avenida, o que para nós brasileiros é açougue, passa a ser carnicería, as ruas são calles, praças agora são plazas, prefeitura é intendência, e Casinos e outras ‘cositas más’ já são permitidos e avistados do lado de lá da avenida... e por aí se vai...

Diferente de outras fronteiras famosas pelo forte comércio, como entre Brasil e Paraguay (Ciudad del Leste), o perfil do comércio que predomina em Livramento-Rivera, não é o do comércio informal ou clandestino. A maioria do comércio aqui é de tipo formal, sendo composto de lojas, galerias e muitos freeshops - grandes, bonitos, luminosos - parecem pequenos shoppings que mesmo predominando na paisagem, coexistem com o também famoso Camelódromo, situado na Av. Paul Harris, com dezenas de camelôs e mais milhares de mercadorias. Do formal ao informal, você encontra dos mais variados produtos para nem tantas outras utilidades. Durante o dia, o fluxo de pessoas, compradores, atravessadores e negociantes é contínuo, um constante entra e sai das lojas. Aceita-se real, peso uruguaio, peso argentino, dólar, euro, cartões, tudo! Caminhões com mercadoria a todo instante param nas lojas, para carregar e descarregar e, pelo que ouvimos, com a atual alta do dólar e conseqüente queda do real, o movimento do comércio no lado uruguaio, não anda com bons ventos, já que a maior parte dos compradores, são turistas, lojistas e revendedores brasileiros.

Por fim, as impressões absorvidas da fronteira entre Brasil e Uruguay, por Livramento e Rivera, foram boas. De duas cidades que, sobretudo na zona de fronteira, as proximidades da Avenida Paul Harris e da Plaza Internacional, a vida gira em torno do comércio e do turismo e o cotidiano das cidades acontece de forma homogênea e integrada, assim como o português e o espanhol se mesclam, os cheiros se misturam e uma vive de mãos dadas com a outra. E, apesar de ser uma fronteira bastante movimentada por conta do intenso comércio, aparentou-se à nossos olhos, também bastante tranqüila no que diz respeito a violência, tráfico de drogas, furto e contrabando de mercadorias, atos comumente praticados nessas regiões e que já foram presenciados em minhas andanças por outras fronteiras latinoamericanas, fato que pode ser comprovado também pelo pouco policiamento, vigilância e controle, algo que nos parece subentendido por ambas as nações e logo nos revela também o caráter amistoso e amigável dessas pátrias vizinhas, Brasil e Uruguai, possível de sentir e vivenciar quando se está em quaisquer uma das duas cidades.

Aqui e acolá, passamos esses dois dias, caminhamos bastante! Entre idas e vindas, ora no Uruguai, ora no Brasil, buscando vivenciar o clima e a realidade dessa fronteira. Por esse caminho Nosotros Latinos cruzamos a primeira fronteira nacional, dentre várias outras que ainda pretendemos passar com nosso projeto. O carimbo no passaporte e a permissão para entrar no país é obtido na Aduana de Migraciones de Rivera, para onde fomos durante o dia de hoje, 18 de março (aniversário de minha Mãe e do avô da Fernanda) e já realizamos este tramite... assim, passaporte carimbado, permissão de 30 dias de permanência no Uruguay e então, agora sim de fato, estamos no Uruguay. Por aqui nosso primeiro destino e área de estudo são os Pampas e, daqui a pouco, seguimos da rodoviária de Rivera para Tacuarembó, situada a 115 km ao sul, já na região dos Pampas uruguayos.

Obrigado por tudo amigos de Porto Alegre, Rivera e Santana do Livramento!!!

Suerte e buena viaje pra Nosotros!!

Santana do Livramento-RS, Quinta-feira, 19 de março de 2015.

"Yo creo que fuimos nacidos hijos de los días, porque cada día tiene una historia 

nosotros somos las historias que vivimos...

Eduardo Galeano

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